ANCIÃ DOS TEMPOS - Rio, junho. 2009
Quando a água e a terra, em pura essência,
Eram a matéria de origem da existência.
A Anciã dos Tempos, que junta os feixes santos
Das palhas extraídas da palma consagrada,
Reinava sobre a lama que formava os pântanos.
E tudo fervilhava de forma presumida,
Ali tudo existia, sem ser, embora sendo
Dos planos da criação, a meta pretendida.
Sua origem, oculta pelo tempo,
Transcende ao tudo e ao nada do universo.
É impossível descrevê-la em simples verso.
Fonte da vida, mãe da sabedoria,
Nunca se irá desvendar tanto mistério
Mesmo cismando sobre Ela noite e dia.
Do seu poder que transforma vida em morte.
Pra renascer melhor, com melhor sorte!
Ainda hoje, lá onde a rã se abriga,
Vibra a essência desta força antiga.
Que entende a voz e o coaxar dos sapos
Embalando no seu feixe de ponta retorcida,
Unidos, todos os que trocam esta vida
Por outra vida em planos bem fadados.
E que em paz como me sinto agora
Também me encontre, chegada a minha hora!
Que suas cores, azuis e violetas
Que suas plantas, orquídeas e trombetas,
Sejam pra mim, defesa e apanágio.
Também que possa eu, ainda neste estágio
De vida material, seguir cultuando,
E prosternado, seu nome ir cantando,
Em lindas preces, ou neste humilde verso:
Saluba Nanã, Mãe do Universo!
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E DISCRIMINAÇÃO COM A CONIVÊNCIA DAS AUTORIDADES.
Para quem acha que no Brasil não existe racismo e que a Constituição Federal é respeitada no que se relaciona à liberdade de culto.
Para quem acredita que a Lei 10.639, que estabelece o ensino da História da África e da Cultura afrobrasileria nos sistemas de ensino, é acatada e cumprida.
Para quem crê que o Estado é laico e independente da influência e comando de qualquer religião, aqui vai a prova de que a repressão continua e que poderes religiosos paralelos mandam mais que as Leis estabelecidas.
É importante que se saiba que a professora punida por fazer cumprir a Lei está afastada de suas funções e impedida de ministrar aulas e que a diretora preconceituosa e ignorante da Lei continua nas suas funções, dirigindo a orientação de crianças que, como ela, se transformarão em adultos cheios de preconceitos e atitudes segregadoras.
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
Exu não pode? – (Stela Guedes Caputo)
Recentemente um jornal carioca destacou o caso da professora proibida de usar o livro “Lendas de Exu” em uma escola municipal. A professora é umbandista e a diretora da escola é evangélica.
É cada vez mais comum que professores e alunos de candomblé ou umbanda sejam discriminados nas escolas.
A pergunta é: por que Jesus pode estar em um livro para o ensino religioso católico, destinado à rede pública, e Exu não pode?
Exu não entra na escola porque este país é racista, e o racismo está presente na escola.
Acredito também que estamos atravessando uma fase de avanço conservador na educação pública. A manutenção da oferta do ensino religioso na Constituição de 88, a aprovação deste como confessional no Rio, os livros didáticos católicos, a concordata Brasil-Vaticano, são vitórias silenciosas que ampliam e legitimam as circunstâncias necessárias para discriminações como essa.
A mãe-de-santo Beata de Yemanjá diz: “Pensam que o Brasil é uma coisa só e nos discriminam. Isso é racismo.”
Para o pesquisador Antonio Sérgio Guimarães, o racismo brasileiro é heterofóbico, a negação absoluta das diferenças implicando um ideal, explícito ou não, de homogeneidade (ou uma coisa só, como diz Beata).
Quando uma escola proíbe um livro de lendas africanas ela discrimina culturas afrodescendentes. Exu é negro. Um poderoso e imenso orixá negro. É o orixá mais próximo dos seres humanos porque representa a vontade, o desejo, a sexualidade e a dúvida. Porque estes sentimentos não são bem- vindos na escola? Porque a igreja católica tratou de associá-lo ao diabo e muitas escolas incorporam essa lógica conservadora, moralista e racista.
O Exu proibido afirma que este país tem negros com diferentes culturas que, se entendidas como modos de vida, podem incluir diferentes modos de ver, crer, sentir, entender e explicar a vida.
Positivo foi que muitos professores e professoras criticaram o ocorrido, o que mostra que também a escola não é “uma coisa só”. É nas suas tensões cotidianas que devemos lutar contra o racismo.
As culturas com suas religiões fazem parte da História da África. Como é que vai ser?
Pais e professores arrancarão as páginas desses livros?Ou eles já serão confeccionados mutilados pelo racimo?
Respondo com a saudação ao orixá excluído da escola: Laro oye Exu! Para que ele traga mais confusão e com ela, o movimento, a comunicação, a transformação onde reina.
STELA GUEDES CAPUTO é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Para quem acredita que a Lei 10.639, que estabelece o ensino da História da África e da Cultura afrobrasileria nos sistemas de ensino, é acatada e cumprida.
Para quem crê que o Estado é laico e independente da influência e comando de qualquer religião, aqui vai a prova de que a repressão continua e que poderes religiosos paralelos mandam mais que as Leis estabelecidas.
É importante que se saiba que a professora punida por fazer cumprir a Lei está afastada de suas funções e impedida de ministrar aulas e que a diretora preconceituosa e ignorante da Lei continua nas suas funções, dirigindo a orientação de crianças que, como ela, se transformarão em adultos cheios de preconceitos e atitudes segregadoras.
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
Exu não pode? – (Stela Guedes Caputo)
Recentemente um jornal carioca destacou o caso da professora proibida de usar o livro “Lendas de Exu” em uma escola municipal. A professora é umbandista e a diretora da escola é evangélica.
É cada vez mais comum que professores e alunos de candomblé ou umbanda sejam discriminados nas escolas.
A pergunta é: por que Jesus pode estar em um livro para o ensino religioso católico, destinado à rede pública, e Exu não pode?
Exu não entra na escola porque este país é racista, e o racismo está presente na escola.
Acredito também que estamos atravessando uma fase de avanço conservador na educação pública. A manutenção da oferta do ensino religioso na Constituição de 88, a aprovação deste como confessional no Rio, os livros didáticos católicos, a concordata Brasil-Vaticano, são vitórias silenciosas que ampliam e legitimam as circunstâncias necessárias para discriminações como essa.
A mãe-de-santo Beata de Yemanjá diz: “Pensam que o Brasil é uma coisa só e nos discriminam. Isso é racismo.”
Para o pesquisador Antonio Sérgio Guimarães, o racismo brasileiro é heterofóbico, a negação absoluta das diferenças implicando um ideal, explícito ou não, de homogeneidade (ou uma coisa só, como diz Beata).
Quando uma escola proíbe um livro de lendas africanas ela discrimina culturas afrodescendentes. Exu é negro. Um poderoso e imenso orixá negro. É o orixá mais próximo dos seres humanos porque representa a vontade, o desejo, a sexualidade e a dúvida. Porque estes sentimentos não são bem- vindos na escola? Porque a igreja católica tratou de associá-lo ao diabo e muitas escolas incorporam essa lógica conservadora, moralista e racista.
O Exu proibido afirma que este país tem negros com diferentes culturas que, se entendidas como modos de vida, podem incluir diferentes modos de ver, crer, sentir, entender e explicar a vida.
Positivo foi que muitos professores e professoras criticaram o ocorrido, o que mostra que também a escola não é “uma coisa só”. É nas suas tensões cotidianas que devemos lutar contra o racismo.
As culturas com suas religiões fazem parte da História da África. Como é que vai ser?
Pais e professores arrancarão as páginas desses livros?Ou eles já serão confeccionados mutilados pelo racimo?
Respondo com a saudação ao orixá excluído da escola: Laro oye Exu! Para que ele traga mais confusão e com ela, o movimento, a comunicação, a transformação onde reina.
STELA GUEDES CAPUTO é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
O MISTÉRIO DAS PALHAS – Rio – janeiro - 2011
Palhas sagradas encobrem o mistério,
Poder contido em amuleto forte,
Tendo domínio sobre a vida e a morte,
Pune com a peste a quem não o leva a sério.
Seguindo solitário, também concede a cura,
Sem se importar em ter compensação,
Um agradecimento, sequer uma oração,
Dos males mais terríveis, àquele que o procura.
Nas mãos porta o fetiche, num feixe amarrados,
E que por seu poder seguem em busca de paz,
Espíritos que foram e agora não são mais,
No mundo seres vivos, outrora animados.
Este é senhor da terra que em sua grandeza,
Levando a paz e o alívio a quem sofre uma dor,
Afaga a seus filhos com paciência e amor
Conjugando humildade, poder a até beleza.
E estando eu prosternado, corpo colado ao chão
Louvo meu pai, exclamando “Atotô!
Omolu meu Orixá, meu dono, meu senhor”!
E com a fé mais pura, murmuro esta oração.
Ifaleke Aráilé Obi.
Palhas sagradas encobrem o mistério,
Poder contido em amuleto forte,
Tendo domínio sobre a vida e a morte,
Pune com a peste a quem não o leva a sério.
Seguindo solitário, também concede a cura,
Sem se importar em ter compensação,
Um agradecimento, sequer uma oração,
Dos males mais terríveis, àquele que o procura.
Nas mãos porta o fetiche, num feixe amarrados,
E que por seu poder seguem em busca de paz,
Espíritos que foram e agora não são mais,
No mundo seres vivos, outrora animados.
Este é senhor da terra que em sua grandeza,
Levando a paz e o alívio a quem sofre uma dor,
Afaga a seus filhos com paciência e amor
Conjugando humildade, poder a até beleza.
E estando eu prosternado, corpo colado ao chão
Louvo meu pai, exclamando “Atotô!
Omolu meu Orixá, meu dono, meu senhor”!
E com a fé mais pura, murmuro esta oração.
Ifaleke Aráilé Obi.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O PÁSSARO
O PÁSSARO - Rio, setembro/2008
Pássaro Negro que em trevosas noites
Silente voa, suave, tenebroso,
E expande as trevas, apagando estrelas.
Uivos sinistros, medorentos ais.
Vento que agita as franjas das paineiras,
Molda mortalhas, sepultando a paz.
Da mãe ancestre, é filho, irmão, consorte.
Carrega em si, o pranto, a morte e a peste.
Espalha a fome, a guerra e a má sorte.
Ave maldita - maldição da vida.
Rompe a cabaça - o útero celeste.
Para voando, sem rumo, sem destino.
Levar consigo, em louco desatino,
Negra magia da bruxa pervertida.
Garras de sabre, escalpos afiados,
Abrindo ventres, derramando entranhas.
Bico curvado como anzol que prende
E devora sem dó, as vítimas que apanha.
Mas quem com o óleo vermelho foi untado.
Óleo da baga da palmeira santa.
Dos malefícios da ave é resguardado.
Aquele que à Mãe das mães presta homenagem,
Faz oferendas, e se prosterna em culto.
Será por ela mesma abençoado,
E contra ele a ave é impotente.
Ave maldita de ato inconseqüente,
Vôo feitiço, bruxedos, malefícios,
Tornam-se bênçãos após o sacro ofício
À mãe que é minha, e o é de toda a gente.
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
Pássaro Negro que em trevosas noites
Silente voa, suave, tenebroso,
E expande as trevas, apagando estrelas.
Uivos sinistros, medorentos ais.
Vento que agita as franjas das paineiras,
Molda mortalhas, sepultando a paz.
Da mãe ancestre, é filho, irmão, consorte.
Carrega em si, o pranto, a morte e a peste.
Espalha a fome, a guerra e a má sorte.
Ave maldita - maldição da vida.
Rompe a cabaça - o útero celeste.
Para voando, sem rumo, sem destino.
Levar consigo, em louco desatino,
Negra magia da bruxa pervertida.
Garras de sabre, escalpos afiados,
Abrindo ventres, derramando entranhas.
Bico curvado como anzol que prende
E devora sem dó, as vítimas que apanha.
Mas quem com o óleo vermelho foi untado.
Óleo da baga da palmeira santa.
Dos malefícios da ave é resguardado.
Aquele que à Mãe das mães presta homenagem,
Faz oferendas, e se prosterna em culto.
Será por ela mesma abençoado,
E contra ele a ave é impotente.
Ave maldita de ato inconseqüente,
Vôo feitiço, bruxedos, malefícios,
Tornam-se bênçãos após o sacro ofício
À mãe que é minha, e o é de toda a gente.
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
HOMENAGEM AO NEGRO BRASILEIRO
Que culpa eu tenho? (Novembro, 2006)
Mãe, que culpa tenho eu de haver nascido
Com a pele escura como o céu da noite?
Filho do tronco, neto do açoite...
Que em nossa raça ainda encontra o alvo.
Que culpa tenho eu, mãe, de ser negro?
De ter no andar a ginga, nos olhos o chamego,
No gesto o afeto, na voz a melodia.
Que culpa tenho eu, mãe, de ser forte,
Superando a doença, derrotando a morte,
Forjado que fui com o mais puro aço,
Sobre a bigorna de meu Pai Ogum?
Serei culpado, mãe, de ser filho do vento?
E cavalgá-lo a qualquer momento,
Correndo sobre ele pra lugar nenhum?
Por que então, se culpa não me cabe,
Condenam-me a viver sem chance, sem caminho?
Que culpa tenho, mãe, de ser mais belo?
De ser esperto, de ser assim maneiro?
E além de negro, também ser brasileiro?
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
Mãe, que culpa tenho eu de haver nascido
Com a pele escura como o céu da noite?
Filho do tronco, neto do açoite...
Que em nossa raça ainda encontra o alvo.
Que culpa tenho eu, mãe, de ser negro?
De ter no andar a ginga, nos olhos o chamego,
No gesto o afeto, na voz a melodia.
Que culpa tenho eu, mãe, de ser forte,
Superando a doença, derrotando a morte,
Forjado que fui com o mais puro aço,
Sobre a bigorna de meu Pai Ogum?
Serei culpado, mãe, de ser filho do vento?
E cavalgá-lo a qualquer momento,
Correndo sobre ele pra lugar nenhum?
Por que então, se culpa não me cabe,
Condenam-me a viver sem chance, sem caminho?
Que culpa tenho, mãe, de ser mais belo?
De ser esperto, de ser assim maneiro?
E além de negro, também ser brasileiro?
Adilson Ifaleke Aráilé Obi
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
HOMENAGEM A OBATALÁ
O BRANCO IMACULADO – Rio – outubro – 2009
Por branca que seja a bruma,
Brancas nuvens, branca espuma,
Neve branca em altos montes,
Transparente água das fontes...
Nada se iguala à brancura,
Nada se iguala à pureza
Do branco das tuas vestes.
O fogo que não consome,
A chama que vivifica,
Parte que encima a cabaça
Onde a existência se explica.
O sopro que anima a vida
E que nos faz respirar,
O alento que nos permite
Neste mundo caminhar.
O princípio da existência,
Pai de toda a humanidade,
Ativo por excelência,
Início e continuidade.
Este é meu pai, meu amigo,
Meu senhor, meu Orixá.
Diante do qual me curvo
E a quem não ouso fitar.
Defenda-me dos perigos,
Das tramas dos inimigos
Das armadilhas do mundo.
Envolva-me em amor profundo
Pra que eu possa, prosternado,
Louvar teu nome sagrado:
Salve o Rei! Hekpa Baba!
Grandioso Obatalá!
Adilson Ifaleke Martins
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
DOCE MÃE - Rio – maio – 2009.
Com as luzes que vem do céu
Doce, que doce é o mel!
Águas limpas, rios mansos,
Linda, atrevida, faceira...
Mãe do amor que inconseqüente,
Toma o coração da gente
De todo jeito e maneira.
Feitiço que vem de longe,
Mas ninguém sabe de onde,
Torna o pranto em brincadeira.
Mexe os quadris, se insinua,
Vestida de ouro, ou nua,
Brilha como a luz do sol.
Minha mãe, deusa do amor
Atenua a minha dor
Traz alivio pros meus ais.
Embala-me em colo moreno
Faz eu me sentir pequeno
Enche o meu peito de paz.
Apazigua o sofrimento
Que obstrui o meu caminho,
Afaga-me com o carinho
Que não dá a qualquer um.
Dona do ventre e das águas,
Ameniza minhas mágoas,
Ore Yeye! Doce Oxun!
Babalawo Ifaleke Aráilé Obi
Com as luzes que vem do céu
Doce, que doce é o mel!
Águas limpas, rios mansos,
Linda, atrevida, faceira...
Mãe do amor que inconseqüente,
Toma o coração da gente
De todo jeito e maneira.
Feitiço que vem de longe,
Mas ninguém sabe de onde,
Torna o pranto em brincadeira.
Mexe os quadris, se insinua,
Vestida de ouro, ou nua,
Brilha como a luz do sol.
Minha mãe, deusa do amor
Atenua a minha dor
Traz alivio pros meus ais.
Embala-me em colo moreno
Faz eu me sentir pequeno
Enche o meu peito de paz.
Apazigua o sofrimento
Que obstrui o meu caminho,
Afaga-me com o carinho
Que não dá a qualquer um.
Dona do ventre e das águas,
Ameniza minhas mágoas,
Ore Yeye! Doce Oxun!
Babalawo Ifaleke Aráilé Obi
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